Dead Combo: fadados à boa música portuguesa
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Lisboa, Portugal

Esse duo instrumental é de Lisboa, formado por Tó Trips e Pedro Gonçalves. O figurino da dupla ajuda a criar dois personagens: um agente funerário (ou, no termo lusitano, um "cangalheiro") e um gangster. A ideia deles surgiu em 2003, quando Henrique Amaro, apresentador de uma rádio pública nacional de grande alcance, convidou os dois para gravar um tributo a Carlos Paredes, músico renomado e virtuose da guitarra portuguesa.
O Dead Combo é uma verdadeira aula de história: ouvindo os acordes da dupla, é possível notar cada um dos elementos que formaram a cultura portuguesa ao longo dos séculos.
Apesar da apresentação estilo indie-moderno, as raízes do fado são as que mais se sobressaem neste combo. Ela está na formação dos instrumentos, na linguagem melódica, na forma ágil, bem pontuada e dedilhada de tocar. Tudo gira em volta da guitarra. As composições costumam ter arranjos com poucos instrumentos, mas as frases e solos se desdobram em linhas variadas e contam histórias sem precisar de palavras.
Vol. 1 (2004) é o autoexplicativo álbum de estreia do Dead Combo. Nele, os portugueses mostram sua premissa: o fado western, ou mais simples, um "fado de cowboy". As composições chegam a ser pesadas, com acompanhamento de bateria e distorção cara-de-rock nas cordas. O lado western da coisa mostra semelhanças com o climão dark da mais conhecida trilha sonora de Pulp Fiction, a surf music estilo 60s do rei Dick Dale.
Em Lusitânia Playboys (2008), temos mais toques da dramaticidade balançante do bolero (sim, música latina) e algumas pitadas de jazz nos compassos. O caráter intimista da faixa "Sopa de Cavalo Cansado" contrasta com o que os dois tinham mostrado ao público até então, enquanto outras faixas demonstram arranjos mais densos, com mais instrumentos, como em "Putos a Roubar Maçãs" e seus violinos.
O último álbum de estúdio lançado pela dupla foi o Lisboa Mulata (2011), que trouxe um som mais amigável, convidando um público maior para ouvir, gostar e até dançar. Isso, dançar, porque eles resolveram convidar músicos novos e explorar os ritmos africanos que imigraram para Lisboa, junto com os habitantes das ex-colônias portuguesas. "Já tínhamos pensado em ir por outros caminhos", disse o guitarrista Tó Trips, em entrevista ao IOL Música. "A África era um continente ainda não explorado pelos Dead Combo". Até um blues, na faixa "Blues da Tanga", entrou na mistura. A dupla trouxe as inovações para São Paulo no início do mês de dezembro, em duas apresentações, nos dias 06 e 07 deste mês.
Nem só de estúdio vive uma banda - e o Dead Combo, apesar de morto, não morreu. A dupla anda participando de trabalhos audiovisuais este ano, como a música da campanha publicitária oficial de turismo para Portugal. A trilha sonora do longa metragem de suspense Operação Outono também é deles e foi indicada para concorrer a Melhor Trilha Sonora de 2013 pela Academia Portuguesa de Cinema.
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