5 discos para entender o manguebeat
segunda-feira, 20 de junho de 2016
Porto Alegre, Brasil
"Estuário. Parte terminal de rio ou lagoa. Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos das marés. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo". Fred Zero Quatro
As primeiras linhas do manifesto Caranguejos com Cérebro, redigido por Fred Zero Quatro em 1992, poderiam muito bem estar em um livro de geografia, tamanha a sua capacidade de descrever professoralmente a vegetação mais tradicional de Recife. No entanto, o objetivo do texto que percorreu o país naquele início de década não era exatamente dar aula, e sim apresentar alguns dos pilares básicos de um movimento artístico que queria devolver a vida ao Nordeste e que tinha na geografia uma de suas principais inspirações. Para Fred e outros tantos pernambucanos envolvidos com a produção cultural de então (os autodenominados mangueboys/manguegirls) o período de industrialização do Brasil havia reservado ao Nordeste as marcas do descaso, e este descaso havia causado uma paralisação do progresso local. Essa obstrução – social, cultural e econômica – estava simbolizada pelo constante aterramento dos manguezais, que danificava o ecossistema original à medida que a massificação da mídia soterrava cada vez mais a cultura de origem pernambucana, retirando, juntos, o ambiente e a identidade do povo. Muitas mentes criativas acharam que a situação exigia uma resposta, uma atitude que injetasse novos ânimos nas artérias nordestinas. Essa resposta, organizada e construída por centenas de mãos, foi um monstro chamado manguebeat.
Ao longo dos anos 90, Chico Science, Fred Zero Quatro, Otto e outros tantos artistas manifestaram em forma de música aquela insatisfação misturada com ímpeto de mudança. O resultado estético era uma mistura de funk, frevo, rap, rock alternativo, punk rock, maracatu e música eletrônica. Esse mosaico tão confuso quanto belo era a voz de um mangue soterrado e ainda assim cheio de vida. O resultado ideológico era algo como um tropicalismo aditivado: enquanto Caetano e os seus haviam captado a cultura internacional para atualizar a produção brasileira, os mangue-creators haviam se apropriado da cultura externa para atualizar-se e também para usá-la como veículo; um veículo que ajudaria a propagar a voz dos obstruídos ao mundo. E essa intenção de gritar a partir do mangue estava claramente exposta no símbolo adotado pelo extenso coletivo ainda em seus primeiros passos: uma antena parabólica cravada na lama.
As primeiras linhas do manifesto Caranguejos com Cérebro, redigido por Fred Zero Quatro em 1992, poderiam muito bem estar em um livro de geografia, tamanha a sua capacidade de descrever professoralmente a vegetação mais tradicional de Recife. No entanto, o objetivo do texto que percorreu o país naquele início de década não era exatamente dar aula, e sim apresentar alguns dos pilares básicos de um movimento artístico que queria devolver a vida ao Nordeste e que tinha na geografia uma de suas principais inspirações. Para Fred e outros tantos pernambucanos envolvidos com a produção cultural de então (os autodenominados mangueboys/manguegirls) o período de industrialização do Brasil havia reservado ao Nordeste as marcas do descaso, e este descaso havia causado uma paralisação do progresso local. Essa obstrução – social, cultural e econômica – estava simbolizada pelo constante aterramento dos manguezais, que danificava o ecossistema original à medida que a massificação da mídia soterrava cada vez mais a cultura de origem pernambucana, retirando, juntos, o ambiente e a identidade do povo. Muitas mentes criativas acharam que a situação exigia uma resposta, uma atitude que injetasse novos ânimos nas artérias nordestinas. Essa resposta, organizada e construída por centenas de mãos, foi um monstro chamado manguebeat.

Ao longo dos anos 90, Chico Science, Fred Zero Quatro, Otto e outros tantos artistas manifestaram em forma de música aquela insatisfação misturada com ímpeto de mudança. O resultado estético era uma mistura de funk, frevo, rap, rock alternativo, punk rock, maracatu e música eletrônica. Esse mosaico tão confuso quanto belo era a voz de um mangue soterrado e ainda assim cheio de vida. O resultado ideológico era algo como um tropicalismo aditivado: enquanto Caetano e os seus haviam captado a cultura internacional para atualizar a produção brasileira, os mangue-creators haviam se apropriado da cultura externa para atualizar-se e também para usá-la como veículo; um veículo que ajudaria a propagar a voz dos obstruídos ao mundo. E essa intenção de gritar a partir do mangue estava claramente exposta no símbolo adotado pelo extenso coletivo ainda em seus primeiros passos: uma antena parabólica cravada na lama.
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